Balanço no blog Diário do Tempo, de Sérgio Vilar


Flipipa – avaliação geral
Por Sérgio Vilar (Publicado no Diário do Tempo)

A Flipipa evoluiu. É inegável. E Dácio Galvão parece ter ouvido críticas dos anos anteriores. O frio exagerado no interior da tenda ou a intervenção inoportuna da plateia ao microfone não se viram mais. O espaço também ficou maior e em nenhuma das dez mesas houve tumulto na entrada.

Um telão praticamente acima do palco facilitou o acompanhamento das discussões para quem estava nas últimas fileiras. O redor da tenda também atraíu público para intervenções, sebos, bibliotecas, artesanato e música. Tudo em um mesmo quadrante – um ambiente muito agradável.

Difícil apontar a mais proveitosa mesa. Depende de interesses. Apostava mais na de Arrigucci, mas talvez a de Fernando Morais tenha sido a mais gostosa de assistir. Também gostei de Arnaldo Antunes, até porque esperava pouco dele.

Me surpreendi com a explanação de Telma Guedes, mesmo com a burocrática e alongada intervenção da psicanalista Márcia Veltrini. No último dia, me limitei a essa mesa em razão das entrevistas com outros convidados. Colhi depoimentos bacanas de Rubens Figueiredo e já ali vi a pouca intimidade do simpático escritor com o microfone. Tácito Costa me confirmou depois da palestra enfadonha.

Minhas ressalvas e dúvidas: o terreno onde foi montado o complexo do Flipipa foi cedido. E sabemos da dinamicidade da Pipa. É bem provável que o espaço esteja ocupado no próximo ano. E aí? Volta à apertada Praça do Pescador?

O telão apresentou falhas constantes. Na palestra de Fernando Morais passou bons minutos fora do ar. E apesar de facilitar a visão, penso que o palco das discussões poderia ser mais alto.

No mais, minha ressalva é conceitual. Li agora que Tácito se surpreendeu com a presença maciça nas mesas dos poetas, no último dia. Mas quem era o público presente? Muitos poetas natalenses. Dava para encher um balaio. Ou seja: a poesia gira em torno do mesmo eixo, sem se expandir.

Penso, então, qual seria a razão de um festival literário. E do papel da curadoria, sempre dificílimo. Por outro lado, volto ao tema: tinha muita criança espalhada por lá, seja no espaço de leitura, ou correndo entre os livros, nas palestras, junto aos pais. Então, penso que o Flipipa cumpre seu papel de educar, discutir e atrair turistas.

Salvo engano li algo no blog de Tácito sobre a recusa de alguns palestrantes a dar entrevista. Concordo. Essa galera recebe uma boa grana para propagar seu trabalho, fica hospedado em bons hoteis, comendo do melhor (muitos ressaltaram o melhor tratamento que já tiveram, inclusive Fernando Morais!) para se recusar a dar entrevista?

Penso que para os próximos anos essa questão seja melhor organizada. Arnaldo Antunes rejeitou total. Procurei a produção na porta do camarim. Uma senhora saiu e se dirigiu a um rapaz ao meu lado, paraibano. Ele queria entregar um livreto de poemas inspirados na obra do ex-Titã. A moça disse, nessas palavras: “Ele não recebe nada além do livro dele, para autógrafo. Você entrega, não fala nada, ele autografa e lhe devolve”. Grosseria pouca é bobabem…

A Telma Guedes – muito simpática – conversava com uma senhora fora da tenda. Esperei e depois perguntei se poderia fazer “duas perguntinhas”, no sentido de que seria rápida minha abordagem. A assesssora pulou na minha frente e disse que as entrevistas teriam de ser pré-agendadas com a assessoria do evento. Nada disso me foi informado. Insisti e ela disse que se a Telma quisesse falar, tudo bem. Falou. Após minhas duas primeiras perguntas, fiz uma terceira e a assessora interrompeu: “Você disse que seriam só duas perguntas”, disse ela.

Sei que meu material colhido ficou prejudicado. Tanto para o DN quanto para a Palumbo – revista a qual o próprio Dácio Galvão é sócio. Então, próximo ano seria o caso de informar dessa necessidade de pré-agendamento de entrevistas ou impor aos convidados um tempo regular para tal.

Para facilitar o trabalho dos jornalistas e da própria organização, penso que disponibilizar fotos em alta resolução no site do evento seria de bom proveito.

No mais, a companhia de bons amigos e da boa cerveja amenizaram a correria do trampo. Ver Tácito Costa beber cerveja dois dias seguidos e amanhecer de ressaca, é fato mais raro do que a criancinha de uns 7 anos que vi lendo um jornal impresso na tenda. Os dois fatos, pra mim, pagaram a estadia de três dias em Pipa.