Sousa Tavares: O rei das teorias conspiratórias


 Rafael Duarte (do Novo Jornal)

O ESCRITOR PORTUGUÊS Miguel Souza Tavares está puto da vida.Viciado em cigarro, birita, mulher e futebol, o gajo quer saber quem danado pediu para que Brasil e Portugal entrassem em acordo em relação à ortografi a. E atesta: ainda não encontrou ninguém.
Tavares encampa e defende uma teoria conspiratória. Acredita cá com os botões dele que tudo não passa de um jogo da malfadada academia da ciência, onde comem e dorme aqueles velhinhos que ninguém sabe o que faz. “Os velhinhos fi caram empolgados com a possibilidade de fi car viajando ao Brasil e assinaram esse acordo”, afi rmou o português na segunda mesa do Festival Literário de Pipa, a Flipipa, que acontece
na praia de Pipa até o próximo sábado. O primeiro dia foi encerrado com um debate sobre poesia concreta com o ex-titã Arnaldo Antunes e o poeta potiguar Jarbas Martins. O jornalista Woden Madruga
mediou o debate com o escritor português, especialista em romances históricos. O último livro dele, Equador, traz um passeio pela cozinha portuguesa mas centra fogo, em mais de 500 páginas, num fato: a ocupação da Ilha da Madeira, na África, por Portugal.
Mas Miguel Tavares vai além da obra. No debate, que sucedeu a discussão de abertura sobre a literatura
sertaneja do escritor potiguar Osvaldo Lamartine, o português se disse fã de Jorge Amado, se encantou pela literatura de José Mauro de Vasconcelos, acha o futebol de Messi de outro mundo e não suporta as redes sociais.
Ele não entende como um sujeito hoje precisa avisar que vai ao banheiro pela internet e vê com incredulidade alguém anunciar que tem quatro mil amigos no Facebook. “Como se alguém pudesse ter quatro mil amigos em algum lugar do mundo!”, diz surpreso.
Da conversa, deu para ter certeza de uma coisa: o português é chegado numa teoria conspiratória.
Em relação às redes sociais, acredita que um Big Brother está armazenando tudo. Dados, fotos, frases, tudo o que você possa imaginar está sendo guardado. Com isso em mãos, a publicidade poderia
muito bem oferecer o produto certo à pessoa certa. “Eu tenho medo de algumas coisas. Você não
pode fechar sua conta se quiser sair do twitter e do facebook. Para mim, tudo o que é indestrutível
não é natural. E isso me dá medo”, afi rmou.
Miguel Tavares tem tanto medo da solidão quanto a ama. Só não abre mão de escrever do jeito dele. Aplaudido por brasileiros que estavam pouco ligando para o novo acordo ortográfi co lusobrasileiro,
o colecionador de teorias conspiratórias diz que se recusa a cumprir a nova regra ainda que
computador aja a favor dos conspiradores. “Isso só pode ser coisa do Itamaraty”, declarou arrancando a gargalhada da platéia.
ATRAÇÕES
Hoje, entre tantas atrações do evento, a grande pedida é a mesa onde o biógrafo mineiro Fernando
Morais falará sobre literatura e história. Na ocasião, o escritor lançará ‘Os últimos soldados da Guerra
Fria’, a mais recente e polêmica obra dele. O livro conta a trajetória de cinco espiões cubanos infi ltrados
nos EUA. Na mediação estará o jornalista Cassiano Arruda Câmara. Antes da abertura de ontem, Morais passeava tranquilamente pelo espaço montado na avenida baía dos Golfi nhos, onde acontece a Flipipa. Assediado pelos fãs, distribuiu autógrafos e papeou com quem chegasse com uma boa pergunta sobre as tantas histórias que viveu e transformou em livros. Ao NOVO JORNAL, o autor de ‘Olga’, e ‘Chatô, o Rei do Brasil’ contou grandes aventuras. Mas isso é assunto para a edição de amanhã.