Mais Flipipa: Geral sobre o Festival no Substantivo Plural

Crianças da rede pública conhecem a biblioteca móvel do Sesc

Tácito Costa
(Publicado no Substantivo Plural www.substantivoplural.com.br)

Alguém tem de trabalhar neste domingo aqui em Pipa, ainda bem que as piores previsões não se confirmaram, quer dizer, somente em parte, o jornalista Rafael Duarte, com quem reparti um quarto na pousada, não ronca na intensidade e altura com que vários colegas me aterrorizaram, levando-me a tomar uns três copos de cerveja pra apagar profundamente tão logo caísse na cama.

Enfrentar quatro mesas redondas, praticamente sem intervalo, entre 18h30 e 22h30, como ocorreu ontem na última noite do Flipipa não é brincadeira, mas fui até quase o fim, saí uns dez minutos antes do enceramento da última mesa da noite, menos por cansaço e mais porque achei insossa a conversa dos escritores Rubens Figueiredo e Carlos Fialho.

Fiquei desapontado porque foi a única mesa que tratou especificamente de romance e a qual eu depositava uma boa expectativa. Reparem, não é que tenha sido ruim, longe de mim desqualificar o trabalho dos dois escritores, talvez eu é que tenha criado uma expectativa exagerada ou não tenham sido abordadas questões que poderiam me fazer ter uma outra opinião.

Incomodaram-me o tom baixo, lento e sem entusiasmo da voz de Figueiredo, a postura pouco provocativa do mediador. Pareceu-me também que platéia estava cansada. Fiquei com a impressão de que aquela é a postura normal de Figueiredo, que foi bastante solícito e respondeu a todas as questões levantadas por Fialho. Esta foi também a mesa que deu menos público. As três anteriores lotaram, o que me surpreendeu, principalmente porque a segunda e a terceira eram sobre poesia, respectivamente, com Carlito Azevedo e Ana de Santana, e Eucanaã Ferraz e João Batista de Morais. Estas duas contaram praticamente com o mesmo público da primeira, sobre a novela da Globo Cordel do Fogo Encantado (Cordel encantado: telenovela e literatura), com Thelma Guedes e Márcia C. Veltrini, mediada por Heverton Freitas, assunto de forte apelo popular.

POESIA EM ALTA

Fiquei surpreendido porque muita gente tem dado notícias de que poesia está em baixa, não tem leitores e nem interessa a mais ninguém etc e o que vi foi uma platéia atenta e vibrante nas duas palestras, o que me deixou muito animado.

Confesso que assisti a primeira mesa, sobre a telenovela da Globo, por obrigação do ofício, o assunto não me interessava nem um pouco. A escritora Thelma Guedes fez uma boa explanação. Achei, contudo, que a psicanalista Márcia Veltrini não acrescentou muita coisa e o mediador, jornalista Heverton de Freitas poderia ter aprofundado questões acerca das relações entre as telenovelas e a literatura.

Na minha não isenta opinião as duas melhores mesas do último dia foram as dos poetas. Muito boas mesmo, tanto Carlito quanto Eucanaã deram show, recitaram poemas, falaram de outros poetas importantes, deram dicas de links interessantes e falaram com propriedade sobre questões pertinentes à poesia.

AVALIAÇÃO FINAL

Acho que o Flipipa deste ano evoluiu bastante em relação aos dois anteriores. Está num local mais amplo e apropriado, as mesas, com algumas exceções, foram muito boas (comentei isso em posts anteriores), as que desandaram um pouco se deve muito mais aos participantes, os “loucos de palestra” – e eu vi vários rondando por lá, ansiosos – foram contidos porque se estabeleceu que perguntas só por escrito, o entorno do evento, com o Sebo Vermelho, a Cooperativa e a BiblioSesc tiveram um papel importante, um público infantil bastante expressivo participou das atividades desta biblioteca móvel.

Não comento a programação paralela, oficinas, exibição de filmes, caminhada literária etc porque não me interessei em acompanhar, para fazer isso teria de dedicar o dia inteiro ao trabalho e penso que aí já seria exigir demais deste cada dia mais abusado editor, mas os jornais devem trazer notícias sobre isso, quem se interessar é só consultar Diário de Natal, Tribuna do Norte e Novo Jornal, que estavam com bons repórteres aqui.

Ganhei o livro autografado da contista Luisa Geisler (Contos de Mentira), obra vencedora do Prêmio Sesc de Literatura 2010, que pretendo depois da leitura comentar neste blog.

Que mais?

Sim, vi a instalação “Caranguejos, cuidado!’ (foto) e a intervenção em memória da obra de Hélio Galvão sobre suas crônicas “Cartas da Praia”, da fotógrafa Candinha Bezerra.

Acho que deu muito certo a apresentação musical ontem no final da tarde, é uma boa maneira de atrair o pessoal mais cedo para o Festival, falo isso porque eu mesmo me preocupei em chegar às 17h30 no local para assistir ao show. A experiência pode ser estendida nos próximos Flipipas. Não precisa ser artista de fora, famoso, nada disso, acho que com pouco dinheiro, bem pouco mesmo, se realiza um bom show, que agrega e não atrapalha em nada a programação literária.

A outra observação é com relação ao número de mesas. Acho que o ideal é mesmo três por noite, com um espaço maior entre uma mesa e outra para o cara tomar uma água ou ir ao banheiro etc. Além disso, fica cansativo e pouco produtivo.

Penso que já passou da hora de o evento ser transmitido online, isso aumentaria em muito o seu alcance, democratizando-o ainda mais e tenho absoluta certeza de que ninguém deixará de estar em Pipa pra assistir pela internet.

É isso, gostei muito, com poucas ressalvas, e no próximo ano estarei de volta.

Se esqueci de mencionar algo importante, o que não é difícil de ocorrer, depois eu falo em post ou comentário.