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Confira fotos do terceiro dia do Flipipa

O terceiro dia do Flipipa sacudiu o público e fez aflorar as emoções na tenda e na plateia. Começou com o espetáculo Sua Incelença, Ricardo III, apresentado magistralmente pelos Clowns de Shakespeare numa arena montada atrás da tenda literária. Quase que simultaneamente, uma ode a Luiz Gonzaga ocorria na Tenda Literária, com Bené Fonteles, Marcos Lopes e Paulo Vanderley. No final, teve até cantoria, à capela, de Boiadeiro na voz de Bené Fonteles, numa quase prece ao Rei do Baião ('Vai boiadeiro que a noite já vem/Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem...'). A tenda, já superlotada, fez coro para o pesquisador que se emocionou. Depois o Flipipa teve a 'presença' de Jorge Amado através do discurso bem alinhavado do ator Nelson Xavier, com participação de Henrique Fontes e Vicente Serejo. no final, um encerramento 'pra cima', em grande estilo, com um sarau em homenagem a Luís Fernando Veríssimo (ausente do festival por estar hospitalizado), com Ana Miranda Nelson Xavier, Titina Medeiros e Cassiano Arruda. Confiram as fotos.

Sua Incelença Ricardo III no Flipipa. Foto: Cinthia Lopes


Vicente Serejo. Foto: Rogério Vital

Nelson XAvier fala sobre Jorge Amado. Foto: Rogério Vital

Nelson Xavier. Foto: Rogério Vital
Vicente Serejo, Henrique Fontes e Nelson Xavier. fotos: Rogério Vital
Tenda lotada. Foto: Rogério Vital
A escritora Ana Miranda. Foto: Rogério Vital
Henrique Fontes. Foto: Rogério Vital
Plateia não arredou o pé da tenda na terceira noite do Flipipa. Foto: Rogério Vital
Poeta Napoleão de Paiva Souza. Foto: Rogério Vital
Titina Medeiros, convidada a participar do sarau para Veríssimo
Ana Miranda no Sarau para Veríssimo. Foto: Rogério Vital
Titina Medeiros, Cassiano Arruda, Ana Miranda e Nelson Xavier aplaudem o encerramento do Flipipa
Crianças na BiblioSesc. Foto: Rogério Vital
Tenda superlotada no sarau para Veríssimo. Foto: Rogério Vital
Titina Medeiros e Cassiano Arruda

Sua Incelença Ricardo III. Foto: Cinthia Lopes

Árvore do livro e tenda literária

Plateia. Foto: Rogério Vital

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Confira fotos da segunda noite do Flipipa

Uma segunda noite movimentada, com mesas literárias instigantes. O Flipipa de sexta-feira começou com a excelente exposição de Mayara Costa e Lívio Oliveira sobre a vida e a obra do poeta Ferreira Itajubá, suas particiularidades e contextualizações. Depois veio o trio de autores para falar sobre a verdadeira viagem literária que é fazer ficção.  João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy, mediados pela poetisa Carmen Vasconcelos, falaram sobre a paixão de leitor quando crianças e a incursão pela escrita na fase adulta. O público se divertiu com o bate-papo de Reinaldo Morais e Mario Ivo Cavalcanti, pelos caminhos da escrita underground, beatniks, histórias do submundo, sexo, drogas e boa literatura. Reinaldo falou sobre seu processo de escrita e como as experiências de vida foram usadas a favor de sua literatura. A noite terminou no mesmo nível com o bom papo de Sérgio Sant'Anna e Rafael Gallo. confira as fotos:

Mayara Costa fala sobre Ferreira Itajubá. Foto: Candinha Bezerra

Mayara Costa e Lívio Oliveira. Foto: Cinthia Lopes

João Paulo Cuenca, Carmen Vasconcelos e Tatiana Salem Levy. Foto: Dionisio Outeda
. Carmen Vasconcelos e Tatiana Salen /foto: Dionisio Outeda
Mario Ivo Cavalcanti e Reinaldo Moraes. Foto: Dionisio Outeda

Mario Ivo e Reinaldo Moraes . Foto: Dionisio Outeda
Rafael Gallo e Sérgio Sant'Anna. Foto: Dionisio Outeda

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Veja as fotos do primeiro dia do Flipipa 2012

Autores conversam com estudantes no encontro dos Jovens Escribas. Foto: Candinha Bezerra



O Flipipa 2012 começou com uma manhã e tarde de quinta-feira  bastante movimentada no espaço do evento e sobretudo na tenda dos autores, com oficinas, bate-papos e apresentações de teatro. Destaque para o encontro dos Jovens Escribas durante a tarde, onde os escritores Carlos Fialho, Pablo Capistrano e Carito Cavalcanti (foto acima) souberam agitar a plateia formada por estudantes do ensino médio. Os autores também fizeram leituras de suas obras e os adolescentes se idenficaram com o conteúdo das narrativas. A Estação de Contos e o espetáculo Flúvio e o Mar, dos Atores à Deriva, completaram a tarde de atividades. À noite foi a vez das palestras sobre Cascudo, Drummond,  jornalismo de sociedade e literatura e memórias. Confira mais imagens:

Teatro na tenda. Foto: Candinha Bezerra





Zuenir Ventura e Woden Madruga. Foto: Dionisio Outeda

Tácito Costa e Joyce Pascowitch na palestra sobre jornalismo cultural e sociedade. Foto: Dionisio Outeda


Plateia numerosa durante as manhãs do Pipinha Literária. Foto: Candinha Bezerra

Zuenir Ventura em uma das melhores palestras do Flipipa. Foto: Yuno Silva

O modernismo na poética de Cascudo abriu a primeira noite. Foto: Candinha Bezerra
Joyce Pascowitch, Tácito Costa e Eliana Lima na mesa sobre jornalismo. Foto: Dionisio Outeda
Antônio Cícero falou sobre Drummond na primeira noite do Flipipa. foto: Candinha Bezerra

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Zuenir Ventura se emociona pela ausência do amigo e elogia homenagem de sábado a Veríssimo

Zuenir Ventura e Woden Madruga. Foto: Dionisio Outeda
A emoção tomou conta da primeira noite do Festival de Literário da Pipa – Flipipa. Escritores presentes e amigos de Luís Fernando Veríssimo lamentaram a ausência do autor, que se encontra ainda hospitalizado em Porto Alegre por conta de uma infecção. Seu quadro ainda é grave, segundo o laudo médico. Para tentar suprir a ausência do mestre da crônica brasileira, eles preparam para encerramento do sábado uma homenagem que, segundo seu amigo Zuenir Ventura, “é algo que ele vai curtir muito quando se recuperar”. Vários autores vão ler textos, crônicas e falar da obra de Veríssimo, incluindo a participação do mediador, o jornalista Cassiano Arruda Câmara.  A mesa literária sobre Fernando Veríssimo será às 20h30 do sábado, 24.
No camarim, antes de sua mesa literária que encerrou a primeira noite, Zuenir Ventura comentou emocionado: “Eu estou triste por que meu grande amigo, meu companheiro de andanças não vai estar aqui. Ele está internado, mas tenho certeza que ele vai sair dessa”, disse. “Achei muito criativa a ideia que a produção do evento teve para substituir a fala de Fernando Veríssimo, por que era ele quem iria encerrar a mesa e não tinha como simplesmente tirar o tema da programação. Então essa ideia de pedir aos nossos colegas escritores que leiam, comentem seus textos é a melhor homenagem  que ele poderia ter. Eu tenho certeza assim que ficar bom vai adorar essa homenagem criativa, por que a gente sabe que Fernando é insubstituível. A ideia foi perfeita”, concluiu o escritor mineiro.
O Flipipa Prossegue nesta sexta-feira com as mesas literárias “Itajubá e o Exílio”, com Mayara Costa e Lívio Oliveira; “Ficção, um experimento literário”, com Tatiana Salem Levy, João Paulo Cuenca e Carmen Vasconcelos; às 19h30 o irreverente escritor Reinaldo Moraes debate “À margem, na literatura brasileira”, com Mário Ivo Cavalcanti; e termina com Sérgio Sant’Anna e Rafael Galo com o tema “Narrativas de amor e Arte”.
O sábado abre às 17h30 em clima de Luiz Gonzaga. O escritor Bené Fonteles, autor da obra “O Rei e O Baião”, conversar sobre a poética musical do Velho Lua, tendo como interlocutores o pesquisador pernambucano Paulo Vanderley e o diretor do museu do vaqueiro Marcos Lopes. Às 18h30 quem sobre ao palco para debater sobre a dramaturgia no universo de Jorge Amado é o veterano ator Nelson Xavier, que já protagonizou mais de 30 filmes e algumas dezenas de personagens nascido no universo literário. Com ele estarão Vicente Serejo e o diretor de teatro Henrique Fontes. “Romance, História e Poesia” serão os temas da mesa de Ana Miranda com o poeta potiguar Napoleão de Paiva Souza. O encerramento será com o bate-papo dos autores em torno da obra de Veríssimo.(Texto: Cinthia Lopes)

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Literatura underground, ficção e experimentos dominaram o segundo dia do Flipipa

Mario Ivo e o escritor paulista Reinaldo Moraes durante conversa sobre o processo de criação de Pornopopeia, livro que poderá virar filme em breve

Tribuna do Norte

por Cinthia Lopes e Yuno Silva, especial de Pipa


O Flipipa de sexta-feira começou e terminou bem, com debates bem diferentes mas que se completaram como uma refeição suculenta para o público ávido por histórias e conteúdos literários. Foi um bom começo as falas de Nayara Costa e Lívio Oliveira sobre a vida e a obra do poeta Ferreira Itajubá, suas particularidades e contextualizações. Pesquisadora da obra de Itajubá há alguns anos, o que lhe fez ganhar algumas alergias e uma dissertação de mestrado, Nayara discorreu sobre a figura peculiar de Itajubá, sua vida na província, o eu lírico, pseudônimos e fortuna crítica. Foi uma fala interessante que segurou a plateia , com Lívio Oliveira costurando as falas com perguntas sobrr o poeta relacionando-o com Cascudo e poetas românticos. A plateia era ainda formada na maioria por professores e alguns estudantes de Letras. 
'Depois veio o trio de autores para falar sobre viagem literária que é fazer ficção.  João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy, dois escritores que hoje estão na ponta de lança da nova geração da literatura brasileira, mediados pela poetisa Carmen Vasconcelos, falaram sobre a paixão de leitor quando crianças e a inevitável  incursão pela escrita na fase adulta. Também debateram a literatura globalizada a aventura literária que foi o projeto "caderno de viagem". Falaram de suas influências literárias que surgem não só de outras leituras, mas da música, cinema e artes plásticas. Nessa hora a tenda  já estava com os 300 lugares quase todos ocupados.

Ao falar sobre suas carreiras, responderam a inevitável pergunta: Como nasce o escritor? Para Tatiana Salem,  esse despertar começou na biblioteca de casa. "Cresci numa casa cheia de livros com estantes até o alto". Os livros foram também refúgio para a timidez de menina. Ela diz que com eles podia "ouvir histórias mesmo estando sozinha, conversar com as pessoas sem precisar falar". A escolha da faculdade ficou entre a Física e as Letras. Optou pela segunda profissão e seguiu carreira acadêmica até se sentir "pronta para escrever".  Para João Paulo Cuenca, a biblioteca da sua cidade e de sua escola tiveram um papel transformador e libertador. A leitura compulsiva de menino, entre aventuras de Julio Verne e mistérios de Agatha Christie - incluindo uma subversão escolar ao conseguir o 'proibido' Ruben Fonseca na biblioteca da escola - evoluíram naturalmente em suas experiências de leitor. Hoje, Cuenca só lamenta que as bibliotecas não sejam como as de antigamente, quando se podia ir nas estantes escolher livros de forma aleatória, sendo capturado por um título, uma capa bonita e uma orelha instigante. "Não gosto mais das bibliotecas de hoje em dia, que você não tem acesso aos livros", disse. 

As viagens, elemento de construção literária de ambos, foi tema provocado pela mediadora Carmen Vasconcelos, que lembrou o projeto cadernos de viagem. Cuenca e Tatiana detalharam a aventura realizada  pelo português  Miguel Gonçalves Mendes em parceria com  os dois autores, numa viagem  até o Extremo Oriente para uma troca de experiências com artistas e pensadores de Macau, Hong Kong, Vietnã, Camboja e Tailândia. Desta viagem nasceu a série Nada Tenho de Meu. Cuenca lembrou que ela está em exibição no Canal Brasil. 

LIVRO PORNOPOPEIA VAI VIRAR FILME
A noite esquentou e o público se divertiu com o bate-papo de Reinaldo Moraes e Mario Ivo Cavalcanti, pelos caminhos da escrita underground, beatniks, histórias do submundo, sexo, drogas e boa literatura. Reinaldo falou sobre seu processo de escrita e como as experiências de vida foram usadas a favor de sua literatura. "Vivi boa parte daquelas histórias (vistas no livro 'Pornopopeia'), até por mais tempo que o recomendado, e claro que dei uma potencializada na porralouquice do personagem. Quis criar um personagem como o super-homem da putaria", disse Reinaldo, avisando: "Gastei dinheiro, perdi saúde, acabei com um casamento, e falo sobre isso sem nenhum orgulho junkie". 

O escritor adiantou que os direitos de "Pornopopeia" foram negociados para o cinema, e que o filme deverá estrear em "dois anos, pelo menos". "Pornopopeia" surgiu na forma de um conto "sem começo nem fim", que relata a cena da suruba brâmane. O autor tentou encaixar em um livro de contos, mas percebeu - "quando o editor justificou os motivos para limar o texto" - que teria que escrever o antes e o depois da tal suruba. A noite terminou com a conversa de alto nível entre o experiente Sérgio Sant'Anna e o jovem Rafael Gallo.

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Sarau para Veríssimo no Flipipa

Zuenir Ventura e Woden Madruga fecham primeira noite com bate-papo animado. Ventura lamentou o cancelamento da vinda do amigo Luis Fernando Veríssimo, por problemas de saúde, e adiantou que irá participar de sarau com textos do autor gaúcho.

Tribuna do Norte

por Yuno Silva - repórter e Cinthia Lopes -  editora do Viver


Vai faltar chão este sábado em Pipa no derradeiro dia do festival literário. Shakespeare, Luiz Gonzaga e Jorge Amado serão lembrados, e um sarau com textos de Luis Fernando Veríssimo resumem a programação principal de hoje. Movimentado durante todo o dia por atividades paralelas que envolvem estudantes e moradores das redondezas, o Flipipa traz Caminhada Literária (de 3km até o Spa da Alma) a partir das 15h e encenação do premiado "Sua Incelença, Ricardo III", os Clowns de Shakespeare, na área externa da Tenda Literária, marco zero do evento, às 16h30. A titularidade dos debates, que começam logo após o teatro, ficam a cargo de Bené Fonteles, Nelson Xavier e Ana Miranda.

O escritor e jornalista Zuenir Ventura, amigo de longas datas de Luis Fernando Veríssimo, comanda o sarau que fecha a edição deste ano com oralização de textos do autor gaúcho. Internado em Porto Alegre desde quarta-feira (21), Veríssimo encerraria o Flipipa 2012. "Muito triste que meu grande companheiro, que deveria estar aqui comigo, está internado. Mas ele vai sair dessa... Achei muito criativa a ideia de lerem textos no encerramento (hoje, 20h30). Tenho certeza que ele vai adorar a homenagem quando ficar bom", comentou Ventura nos bastidores do 4º Festival Literário da Pipa. Zuenir foi a grande atração na quinta (22). "Cheguei arrasado com a situação, e esse papo me animou muito. Ano que vem vamos voltar aqui juntos", disse sobre o amigo antes de ir atender a fila de autógrafos.

Com um bate-papo solto e muitas histórias na manga, a conversa entre Zuenir Ventura e Woden Madruga garantiu os melhores momentos da irregular noite de abertura. Bem humorado, o experiente jornalista de 81 anos falou de Chico Mendes a Nelson Rodrigues, da relação entre esses tempos de 'mensalão', seus personagens, e o contexto histórico do movimento cultural de 1968. "E fiquem os mais jovens sabendo que naquela época éramos presos por subversão, e não por corrupção", brincou.

Entre histórias de cabaré e contracultura, Zuenir contou como ficou amigo do conservador Nelson Rodrigues: "Na ditadura Militar, entre 1968 e 69, tive o privilégio de ficar três meses preso com Hélio Pellegrino, que era muito amigo do Nelson. Apesar de ser um escritor genial, eu odiava o posicionamento político dele. Sempre que ia visitar o Hélio eu ficava no canto, mudo, fazendo beicinho", diverte-se Ventura com suas memórias. Acabaram amigos e foi o próprio Nelson Rodrigues que ajudou Zuenir a sair da cadeia. "O Hélio sempre dizia que o Nelson era personagem dele mesmo, e que eu não deveria ficar com raiva".

Com pleno domínio do público, o escritor e jornalista ainda ressaltou a importância do olho no olho, do contato pessoal, "coisas que estão rareando hoje em dia", criticou. Ainda lançou para reflexão a máxima de que a amizade é "muito mais importante que o amor": "ela (a amizade) não requer cláusula de exclusividade, quer dizer, tirando o Ziraldo que é um amigo muito ciumento", corrige. Sobre o tema proposto para o debate, "Ficção e Memória", deu o veredito: "a fronteira eles elas é movediça e fascinante".

SANFONA, ARTE VISUAIS E NEGRITUDE

Além da programação oficial do Flipipa (www.flipipa.org), a literatura e a prosa também permeiam outras agendas neste trecho do litoral Sul potiguar. Hoje, às 22h, o sanfoneiro cearense Waldonis apresenta em Pipa o show "Cantos e Causos", onde intercala músicas com histórias e anedotas colecionadas em suas andanças - ingressos à venda no Bodega Brasil por R$ 30.

Outra dica é conferir a programação alternativa do Flipaut (www.flipaut.org), que ocupa vários espaços culturais com exposições, debates, performances e apresentações. Neste sábado, a programação do Flipaut enfatiza a Semana da Consciência Negra e promove atividades na praça principal da Pipa até o fim da tarde, onde haverá batismo de Capoeira.

Também vale a pena passar no estande do Sebo Vermelho, que trouxe uma série de livros para lançar durante o Flipipa, como uma biografia de Luiz Gonzaga escrita em 1950 por José Praxedes, uma antologia rara com poemas de ferreira Itajubá e "Velhas Heranças", compilação de textos de Hélio Galvão.

FALTOU TEMPERO

O que era para ser a mais apimentada mesa literária da noite, a palestra "Jornalismo, cultura e sociedade: nos bastidores da notícia", com a presença da veterana jornalista e publisher Joyce Pascowitch  e a colunista social da Tribuna do Norte Eliana Lima, tendo a mediação do jornalista Tácito Costa, acabou perdendo o tempero principal do universo em que atuam. A plateia certamente esperava boas e muitas histórias do mundo político e colunável que recheia páginas e sites do segmento. No lugar, um relato até tímido da carreira de ambas as jornalistas, passando por temas como redes sociais, o novo jornalismo de variedades, colunismo em tempos de internet e futuro das publicações impressas.

Joyce é considerada uma das maiores 'caçadoras de notícias quentes' do jornalismo de opinião, principalmente quando atuava como colunista na Folha de S. Paulo e revista Época. Hoje, reclusa por opção, ela é dona de publicações de prestígio em plataformas diferentes como internet e revistas impressas.

No bate-papo, Joyce falou sobre o cotidiano que é chefiar o site Glamurama (que chega a ter 300 mil acessos diários) e a edição das revistas Joyce Pascowitch, Poder, Moda e Modo de Vida. Disse que começou a carreira só com o talento para apurar notícias. "Sempre tive o olhar aguçado para a informação, quando comecei não sabia nem usar a máquina de escrever direito", conta.

Simpática, despojada e mostrando um conhecimento global da cultura e do mundo contemporâneo, a jornalista disse que a grande mudança do jornalismo social foi deixar de ser social (com sua pompa e glamour tradicional) para tratar da sociedade. "A sociedade é a cultura, as pessoas que fazem coisas bacanas, os bastidores da política, comportamento, até os modismos", disse ela. Para Joyce, as redes sociais ajudam muito a atuação na área.

Por fim, provocada pelo mediador Tácito Costa sobre o desafio de manter quatro publicações (revistas) em meio a tantas previsões negativas sobre o futuro do jornalismo impresso, ela disse "não ser uma especialista no assunto", mas que a junção internet e publicações mensais de conteúdo variado, para leitura, tem sido a receita bem sucedida "De fato o jornalismo diário tem sentido a concorrência da internet. Mas eu faço publicações mensais, então para mim tem dado certo. Internet e revistas vão muito bem inclusive lá fora", concluiu.  

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Flipipa: sol, mar e livros


Tribuna do Norte [Yuno Silva - Repórter]


A cosmopolita praia da Pipa, em Tibau do Sul, conhecida por suas belezas naturais, badalação e o clima de paraíso tropical que atrai visitantes de todos os 'naipes', se transforma em destino certeiro para interessados em literatura e boas histórias. De hoje até o próximo sábado (24), aquele trecho do litoral Sul potiguar abriga a quarta edição do Festival Literário da Pipa, que este ano continua na trilha do Modernismo e da literatura de ficção, e também joga seus holofotes para Jorge Amado, Ferreira Itajubá, Cascudo, Luiz Gonzaga. A programação, eclética e gratuita, traz nomes conhecidos do grande público como Zuenir Ventura, Sérgio Sant'Anna, Joyce Pascowich, Nelson Xavier, Antônio Cícero e Luís Fernando Veríssimo, Reinaldo Moraes, e a nova geração de escritores como Tatiana Salem Levy e J. P. Cuenca. Ao todo serão doze mesas de debates, concentradas no fim da tarde para a noite, além de uma série de atividades paralelas como lançamentos de livros, oficinas literárias, biblioteca itinerante, caminhadas, shows e exibição de filmes (confira a programação em www.flipipa.org).
DivulgaçãoTenda literária é o espaço principal do Flipipa, e recebe público diário para quatro debates por noite. Este ano, o cenário será em homenagem a Newton Navarro, que terá suas obras reproduzidas em painéisTenda literária é o espaço principal do Flipipa, e recebe público diário para quatro debates por noite. Este ano, o cenário será em homenagem a Newton Navarro, que terá suas obras reproduzidas em painéis

Como de praxe, os potiguares também marcam presença com Tácito Costa, Henrique Fontes,  Lívio Oliveira, Vicente Serejo, Carmem Vasconcelos, Napoleão Souza, Eliana Lima, Woden Madruga, Mario Ivo Cavalcanti, Cassiano Arruda, entre outros.

Com um formato consolidado, que privilegia convidados e atrações inéditas, a novidade do Flipipa 2012 diz respeito ao local onde a estrutura será montada. Em uma área mais ampla, o epicentro da programação acontece no estacionamento do Pipa Park, localizado na av. Baia dos Golfinho, logo na entrada da localidade. E como forma de nortear o roteiro de quem irá acompanhar as atividades do festival literário, a TRIBUNA DO NORTE traça um panorama diário dos debates principais que ocuparão a Tenda Literária:

QUINTA: Modernismo e jornalismo  

Após a apresentação da Orquestra do Solar Bela Vista, que dará as boas vindas ao público a partir das 17h, entre em cena um debate em torno do "Modernismo na poética de Câmara Cascudo". O assunto será abordado pelos professores potiguares José Luiz Ferreira, Humberto Hermenegildo e Maria Suely da Costa, mais o pernambucano Neroaldo Pontes de Azevedo. A intenção do quarteto é evidenciar os elos que unem o lado poético, e pouco conhecido, de Cascudo com o Movimento Modernista que tanto influenciou a produção artística brasileira nas décadas de 1920 e 30 - e que ainda hoje serve como referência.

Antonio CíceroO assunto "Modernismo" continua em pauta na conversa entre o poeta, compositor e ensaísta carioca Antônio Cícero e o professor natalense Carlos Braga, na mesa intitulada "Modernismo e modernidade em Carlos Drummond de Andrade".

Em seguida, para descontrair o ambiente, os jornalistas Joyce Pascowitch, Tácito Costa e Eliana Lima revelam detalhes de como se dá o processo para se chegar até uma informação, muitas vezes exclusiva, no debate "Jornalismo, cultura e sociedade: nos bastidores da notícia". "Acredito que o tema irá despertar curiosidade e interesse do público", aposta Tácito Costa, que fará o papel de mediador. "Como são duas jornalistas voltadas para celebridades, e ambas mantém relações estreitas com o poder, teremos uma ideia de como as coisas funcionam nos bastidores e como é o processo de produção de reportagens". Tácito adianta que o papo poderá entrar em questões como privacidade e o papel das redes sóciais - e da própria internet - interagem com o jornalismo impresso.

A primeira noite encerra com um papo entre Woden Madruga e Zuenir Ventura, que irão tratar de "Ficção e memória". "Vou esperar o papo dele (Zuenir) para saber qual será o caminho da conversa", disse Madruga, que pretende deixar "um pouco de lado o Zuenir escritor para falar mais do Zuenir repórter". Woden quer ressaltar a visão do jornalista a respeito do quadro político atual. O tema da mesa também passa pela recente obra do autor: "Eu li agora o Sagrada Família e gostei. Acho que tem 90% de realidade e 10% de ficção, vamos levantar esse assunto. Minha intervenção vai ser a melhor possível acredito que o público está pé interessado no papo do Zuenir", disse Madruga.

SEXTA: De experimentos e irreverência

A programação de sexta-feira (23) começa musical, com performance do Coral do Solar Bela Vista, seguido de um debate sobre o poeta Ferreira Itajubá (1877-1912) protagonizado pelo escritor Lívio Oliveira e a pesquisadora Mayara Costa. "O assunto tem um grande significado, pois reaviva a memória em torno de um grande poeta potiguar que marcou seu tempo", enumerou Oliveira. Poeta, trovador e menestrel, Itajubá circulou pela Ribeira de violão em punho, cantarolando as belezas das mulheres e da paisagem natalense do início do século 20.

"Quero provocar um debate informal, que mantenha o humanismo do poeta, uma pessoa especial que viveu uma vida muito curta (35 anos) e morreu praticamente como indigente", disse Lívio, ressaltando que a grande especialista no assunto é Mayara Costa, que preparou um livro e defendeu uma dissertação de mestrado sobre o personagem, cujos poemas só foram publicados após sua morte.

O tema "Ficção, um experimento literário" é o mote da mesa que reúne a escritora portuguesa Tatiana Salem Levy, o carioca João Paulo Cuenca e a poeta potiguar Carmen Vasconcelos. Cuenca e Tatiana foram selecionados pela revista britânica "Granta" no livro "Os melhores jovens escritores brasileiros".

Reinaldo MoraesA dupla Reinaldo Morais, de São Paulo, e o jornalista e publicitário Mário Ivo Cavalcanti conduzem o debate "À margem, na literatura brasileira". Mário Ivo informou ao VIVER que a linha de raciocínio será "falar sobre a obra de Reinaldo" e que vai ser difícil escapar dos assuntos sexo e drogas, temas recorrentes dos livros do irreverente escritor paulista. "O horário é meio impróprio, mas não há como escapar disso", garantiu Ivo. "O interessante é mostrar ao público que não é nada simples escrever sobre putaria com qualidade. Quem sabe desmistificamos esse pensamento", arrisca o potiguar.

O escritor Sérgio Sant'Anna, do Rio de Janeiro, e o jovem autor paulista Rafael Gallo, fecham a sexta-feira com o tema "Narrativas de amor e arte". Sant'Anna aproveita a ocasião para lançar os recentes "O livro de Praga" (2011) e "Páginas sem Glória" (2012).

SÁBADO: Gonzagão, Jorge Amado e crônicas

A já tradicional Caminhada Literária abre a programação oficial do Flipipa no sábado, às 16h, que segue por 3km da Av. Baia dos Golfinhos até o Spa da Alma.  Enquanto a caminhada segue seu destino, o grupo Clowns de Shakespeare encena o espetáculo "Sua Incelença, Ricardo III", na área externa da Tenda Literária, às 16h30, pouco antes do debate "Luiz Gonzaga, uma poética musical", com o artista plástico e escritor Bené Fonteles, o pesquisador pernambucano Paulo Vanderley e o potiguar Marcos Lopes, do Museu do Vaqueiro.

O teatro e a literatura também se encontram em "A dramaturgia no universo de Jorge Amado", debate com o ator Nelson Xavier, o ator Henrique Fontes e o jornalista Vicente Serejo. "Vou fazer o meio de campo da conversa, mas como bom sessentão sou leitor de Jorge Amado e fã de Sônia Braga", disse Serejo, numa clara alusão ao romance Gabriela. Para o jornalista, Jorge Amado foi "desenhista da sociedade brasileira" e adiantou que seu papel será de "estimular o público e deixar o jogo correr".

Ana Miranda e Napoleão Paiva Souza participam da mesa "Romance, história e poesia"; já Luís Fernando Veríssimo, acompanhado do jornalista Cassiano Arruda Câmara, fecha a programação do Flipipa 2012 com um painel sobre a própria obra e trajetória do escritor e cronista gaúcho.

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Bené Fonteles escreve sobre 'Poética Gonzaguena: inspirações e parceiros''



Convidado para o debate que abre as mesas literárias do sábado, sobre "A poética musical de Luiz Gonzaga", o escritor Bené Fonteles envia texto exclusivo para o www.flipipa.org  Confiram as reflexões do autor de "O Rei e o Baião".

Por Bené Fonteles

Luiz Gonzaga sabia de có e coração a cartografia ambiental e sentimental do povo e do sertão nordestino.
Por isso, naturalmente deixou fluir e influir uma lírica poética que vestiu os versos tantos de seus muitos parceiros “cheirando a bode”. Era assim que ele se referia carinhosamente a Zé Dantas, talvez o parceiro que mais sentido deu às coisas sertanejas. O mesmo Zé Dantas que, pelo conhecimento vivido, também soube traduzir costumes, sentimentos e ambiências de um interior que não era só paisagem, mas o dentro do coração dos nordestinos, revelando corpo e alma de um itinerário lírico que partia da voz dos cantadores, vaqueiros e dos poetas de cordel e emboladores nas feiras e festas, tudo advindo da poesia provençal de herança da cultura ibérica.

 É preciso também ir fundo no canto dos menestréis nordestinos que povoaram essas mesmas festas e feiras, compuseram e cantaram benditos e ladainhas, com e para as beatas, recitaram versos nos dramas e outras manifestações populares sagradas e profanas, para chegar até o cerne e a origem do que Luiz Gonzaga sintetizou, recriou e vestiu com sua rica verve interpretativa.

 Gonzaga nos encantava de forma singular, vestido de sua própria identidade mais do que regional, entidade universal de sertanejo que existe e resiste em Cabrobó ou na Bretanha francesa. Não à toa, Guimarães Rosa prosou um dia que o sertão está em toda parte e mais ainda no dentro da gente mesma. Portanto, a roupa arquetípica criada por Gonzaga nos veste a todos, nos autoriza a sermos donos de uma linguagem universal que transcende limites regionais e tacanhos.

 A universalidade das letras que seus parceiros versaram dos anos de 1940 a 1980 poderia descrever e potencializar uma literatura de um grande sertão, veredas nordestinas insondáveis, que ganharam amplas dimensões culturais e espirituais para revelar um Brasil menosprezado e oculto por trás do preconceito da erudição acadêmica eurocêntrica. Tal academicismo ainda rege nossos pretensos intelectuais. Subestimar a cultura poética de um povo matuto ou caipira é ir contra a sabedoria popular que engrandece as nações. Antonio Cândido, em sua primeira tese uspiana, prova o contrário, mostrando, por exemplo, que o dito caipira falava e cantava um português castiço, de fonte erudita, de um tempo fundador da língua e da poética portuguesa.

 Afirmo que, mesmo que nada sobrasse de material sobre a terra brasileira, a vasta obra musical e interpretativa da qual Luiz Gonzaga se apropria e recria certamente traça uma cartografia que contempla a geografia ecológica de inúmeras localidades. Descreve sua cultura paisagística do Riacho do Navio ao Rio Pajeú, do Rio Pajeú ao despejar no Rio São Francisco, e do Velho Chico a desembocar no meio do mar Atlântico, traçando uma trajetória sintética e sincrética de muitas culturas amalgamadas por milhões de almas ribeirinhas ou barranqueiras que amam a figura plural e original de Gonzaga.

 Essa cartografia anímica e lúdica traça os mapas da religiosidade fanática, fervorosa e autêntica que herdou de sua mãe Santana, cantadora de benditos e ladainhas nas novenas da fazenda Caiçara. Canta também a fauna e a flora como nunca se imaginou na música feita no país, só depois reverenciada na música de Tom Jobim, que também compôs baião e de quem Luiz Gonzaga gravou magistralmente “Caminho de Pedra”, da parceria de Tom com Vinícius.

 Tomemos, então, por referência, as aves asa branca, assum preto, acauã, fogo-pagou e outros inúmeros pássaros que viraram tema de canções extraordinárias que servem de pretexto, mote e metáfora para falar de relações amorosas, saudades e lamentos sertanejos, desejos e sentimentos vários, de sede de companhia e vasta solidão, que o sertão verte à beira das estradas e dentro dele, da caatinga ao semiárido. Assim como os pássaros canoros, Gonzaga também canta as tantas árvores do sertão, como na música “Juazeiro”, que interpreta de forma pungente e emocionante e na qual versos falam da sombra em que conversavam um ela e um eu que todo mundo tem dentro de si na vontade de amar e se reconhecer no Outro.

A religiosidade atávica também está presente nos versos de muitos parceiros, demonstrando a sua fé, a fé gonzagueana inabalável no que fazia e acreditava ser e ter em tantas canções dedicadas a Padre Cicero, a Frei Damião, a Nossa Senhora, a São João do Carneirinho. Este último, o padroeiro da localidade, cuja imagem foi a primeira de santo que viu e que reverenciava na pequena capela da fazenda Caiçara, onde nasceu, e que tanto lhe encantou o imaginário até que virou baião. A imagem de São João do Carneirinho foi o ponto de partida de todo o seu imaginário de fé religiosa, um São João icônico que ele viu subir nos mastros coloridos junto a muitas fogueiras e forrós pé-de-serra, e, a partir do Nordeste, viu contagiar o Sul e todo o Brasil que, no fundo, é também sertanejo, da amazônia à caatinga, do cerrado aos pampas.



Seus letristas também dão voz a sentimentos arraigados na vocação ancestral de Luiz Gonzaga para recriar ou reinventar um Nordeste que, até então, era menosprezado pela cultura e pela política nos anos 40, 50 e 60. Ele – que, segundo Câmara Cascudo, não é o sertão, o sertão é que é ele - vai dar voz ativa a um povo, uma voz do Brasil oculto, mas nunca inculto e pobre. Ele é a voz do Brasil dos exilados migrantes vindos para o Sul tentar uma outra sorte sem “vidas secas”. Gonzaga é  o cantor do exílio, da minha terra que tem carnaúba e onde canta o acauã e as aves que aqui gorjeiam não só gorjeiam, mas, como no baião “Fogo-pagou”, alimentam muita fome severina.

 Gonzaga deu voz a uma canção emblemática de Patativa do Assaré - o poeta máximo do Nordeste caboclo. “Triste Partida” tornou-se verdadeiro hino e mini épico da migração de nordestinados para virar mão de obra barata, quase escrava, na construção civil de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte ou no trabalho também árduo da lida doméstica dessas mesmas cidades e das tantas periferias dos brasis.

 São esses nordestinos que vão sentir e se identificar com a lírica gonzagueana ambientada em uma cartografia leal e sentimental à cultura íntima de um povo ainda não consciente de seus valores culturais, que Gonzaga vai realçar e divulgar para o mundo. São eles que vão consumir e ampliar essa literatura musicada e cantada com força, de peito aberto por todo um Nordeste que vai perpassar as favelas cariocas e paulistas. Um Nordeste ainda não visto em sua poética rica de verve e ritmos, ainda não sentido e estimado em suas amplas manifestações culturais e espirituais.

 Daí, releva-se uma poesia impregnada do barro do chão, nascida nos anos 40 junto de Gonzaga e do cearense de Iguatu, Humberto Teixeira, ampliada pelo pernambucano de Carnaíba, Zé  Dantas, rediviva no também pernambucano de Sumê, Zé Marcolino, e noutros nordestinos de cepa, como João Silva, seu maior parceiro em número de canções. Houve outros tantos poetas, até então anônimos, nos quais descobriu talentos para dar corpo e sentimento a esta cartografia lírica, anímica, ambiental, espiritual, elevando a cultura do Nordeste ao patamar mais alto da alta cultura brasileira.

 Zé Dantas é parceiro de Gonzaga em duas canções viscerais. Uma, na poética da denúncia, que é “Vozes da Seca”, a primeira canção que poderíamos chamar de protesto, mais de uma década antes que Geraldo Vandré, Sergio Ricardo ou Carlos Lira lançassem suas músicas contra a ditadura militar e a grave situação social no país. “Vozes da Seca” é a primeira canção que dá voz ao cidadão nordestino que não quer esmola, mas trabalho digno e justiça social para todos: “Mas, doutor, uma esmola / a um homem que é são / ou lhe mata de vergonha / ou vicia o cidadão”.

 A outra escrita por Zé Dantas é “Siri Jogando Bola”, inspirada nas emboladas dos cantadores nos desafios públicos, letra que requer do intérprete agilidade e destreza vocal, que só Gonzaga possuía, além do genial Jackson do Pandeiro. É uma letra em que se fala pela primeira vez na bebida coca-cola, que “dá um arroto de lascar”, muito antes de Caetano Veloso, que apenas a bebia na marcha-rancho modernizada “Alegria, Alegria”.

 Ainda em relação a “Siri Jogando Bola”,  Zé Dantas só não engoliu o pão que o capeta amassou quando o apresentador de TV Flávio Cavalcanti quebrou o disco com a gravação de Gonzaga em seu polêmico programa, porque, como médico culto, escreveu um artigo em jornal carioca mostrando, com elegância, a ignorância do apresentador, que subestimou a importância da letra e da música criticada para divulgar mais uma vez um ritmo e uma poética do Nordeste. E tudo com grande inovação de linguagem e uma interpretação genial e gostosa de Gonzaga “lá no mar!”. Aliás, ele, um oceano de sabedoria interpretativa que sabia aliar a poesia, ou a música alheia, com sua verve criativa cheia de improviso e falas inesperadas, antes do rap e do hip-hop invadirem a cena contemporânea.

 É Zé Dantas que também vai compor, e sozinho, “Samarica Parteira”. É uma narrativa ou “causo” em que Gonzaga canta quase falando, com uma sonoplastia tipicamente sua, usando a sanfona ponteando efeitos junto com a boca, a imitar o canto dos pássaros, dos sapos, latidos de cachorros, abrir de porteiras, cascos de cavalos e outros sons acidentais que surgem no caminho de quem vai de jumento, às pressas, buscar uma parteira pra uma quase parida e um aperreado pai, que quer que o empregado volte antes do cuspe secar. Gonzaga conta todo esse pequeno drama nordestino com humor e de forma muito original, como já ensaiava Dantas nas rodas de amigos.



Humberto Teixeira, quando encontra com Gonzaga no ano de 1947, faz com ele, de uma sentada, muitos baiões, xotes e xaxados, como “Baião”, um verdadeiro manifesto musical, em que se ensina como dançar o ritmo, e lançam o movimento cultural nordestino tão importante como seria, décadas depois, a Bossa Nova dos cariocas e a Tropicália dos baianos, para a MPB. Sim, porque foi tudo muito bem arquitetado pelos dois, Gonzaga e Teixeira, para acontecer o que Sivuca, anos mais tarde, chamaria de “operação inversa”, ao trazer a música, os ritmos e os costumes nordestinos para invadirem o Sul, via indústria radiofônica e fonográfica, casadas para ditar a moda para todo o Brasil, como hoje faz a TV.

 Os dois parceiros trouxeram, com urdida poética consistente, os valores culturais e espirituais escondidos, por décadas, da omissão da cultura oficial sulista, como fez a política do Estado Novo, com uma também genial Carmem Miranda, com sua baiana estilizada, para dar boas-vindas à política da boa vizinhança com os Estados Unidos.

 Seria, então, inaceitável a figura emblemática que Gonzaga criaria nos anos de 1940, juntando a figura do cangaceiro e do vaqueiro para representar este Brasil nada folclórico e caricatural que os americanos adoraram na figura ousada, sensual e talentosa de Carmem Miranda. Gonzaga trazia a poética do cabra macho como imagem, mas que cantava docemente e sensivelmente suas dores de amores, carências e saudades de um sertão que fora abandonado por eles por questões de sobrevivência.

Gonzaga procura parceiros nordestinos do sertão brabo para dar sentido a tudo o que viveu na infância e em parte da juventude em Exu, a cidade pernambucana vizinha ao maior celeiro cultural no Nordeste. É a região do Vale do Cariri, com três cidades referenciais para sua família, a Juazeiro do Norte de Padre Cícero, além de Crato e Barbalha, com tradição forte de artistas e artesãos, poetas da melhor qualidade, como Cego Aderaldo e Patativa do Assaré, nascido não muito longe dali.

Gonzaga, com dois poetas das brenhas, Teixeira e Dantas, definiria todo o conceito estético e poético de sua música e do movimento cultural nordestino que queria instalar na cena urbana sulista e urbanizá-la, não só para conferir modernidade ao projeto, mas também para dar outra dimensão cultural ao Nordeste. São esses dois parceiros cheirando a bode e a chão de barro batido, que lhe dão temas e versos viscerais e definitivos para que seu reinado lhe desse fôlego de décadas e vencesse o fatalismo da morte prematura. As comemorações dos 100 anos de nascimento revelam o que nenhum artista brasileiro, até agora, teve de reconhecimento, homenagens e tantas recriações de sua vasta obra.

 Compreendemos melhor isso quando sabemos que Gonzaga influenciou e inspirou gerações de artistas dos mais importantes na música popular brasileira, surgidos desde os anos de 1950, de Sivuca e Jackson do Pandeiro a Gilberto Gil e Caetano Veloso, de Geraldo Vandré e Hermeto Pascoal a Alceu Valença e Fagner, de Zé Ramalho e Geraldo Azevedo a Chico César e Lirinha, todos tributários de um rio sem fim de canções e gestos, que vão além de tantos ritmos e tanta poesis.


Luiz Gonzaga, enfim, é porta-voz de uma conjunção feliz de poetas que recriaram o Nordeste, revelando uma literatura musicada ímpar no país, e talvez no mundo, que cantou e canta uma região nos seus detalhes mais íntimos, com suas formas estéticas mais criativas e suas aspirações e sonhos e utopias mais profundas, que ainda nas noites mais belas de São João, em que o Rei anima festas num céu onde explendem  fogos e estrelas sem fim...



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Sérgio Sant'Anna: Um autor deitado em experimentos


Texto: Isaac Lira - Jornal da Tribuna do Norte de 18.11.2012

Após um hiato de quase oito anos, o escritor Sérgio Sant´Anna voltou a publicar em 2011. No retorno, os anos longe das publicações foram compensados com dois livros lançados em pouco mais de um ano: O Livro de Praga, da coleção Amores Expressos, e Páginas sem Glória, disponível para os leitores desde o dia 14 de setembro deste ano. Os dois trabalhos foram recebidos por crítica e público sobre o mesmo prisma que acompanha a carreira do escritor carioca desde o lançamento de seu primeiro livro, no fim da década de 60. Um trabalho "experimental".

O rótulo talvez não seja suficiente para definir a obra de Sérgio Sant´Anna, mas o escritor afirma não se sentir desconfortável ao ser chamado de experimental. "Ela é dada pelos críticos, talvez porque eu passeie entre várias formas de  fazer ficção. Eu me sinto à vontade com a definição", aponta, antes ressalvando: "Eu não busco, quando escrevo, esta classificação de experimental".

Nos seus dois mais recentes trabalhos, Sant´Anna não deixou de fazer jus à classificação. O Livro de Praga foi encomendando como um romance ambientado na cidade tcheca, tendo uma "história de amor" como pano de fundo. O resultado saiu à esquerda da encomenda: são sete narrativas interligadas que "podem ser lidas como um romance", e falam de amor a partir do sexo, erotismo, taras e perversões. Já Páginas sem Glória, o mais recente trabalho, tem dois contos e uma novela. Em Entre as Linhas, por exemplo, o enredo parte da análise de uma leitora sobre o livro de um amigo (veja trecho), dando ares metalinguísticos, termos que o próprio Sant´Anna rejeita.

Sérgio Sant´Anna irá fechar a segunda noite do Festival Literário de Pipa, às 21h30, do dia 23 de novembro (sexta-feira). A mesa terá como tema as "Narrativas de Amor e Arte". Confira sua entrevista:

Como se deu a seleção das narrativas? O senhor tinha mais contos e novelas à disposição? Por que escolheu essas três especificamente?
Eu tinha mais contos à disposição sim. Novelas não. E fiz uma seleção rigorosa do melhor, de maneira a lançar um livro de muita qualidade, no meu entender.

Neste novo livro, assim como em vários outros, costuma-se colocar a etiqueta de experimental no seu trabalho. O senhor se sente confortável com essa definição?
Eu não busco, quando escrevo, esta classificação de experimental. Ela é dada pelos críticos, talvez porque eu passeie entre várias formas de  fazer ficção. Eu me sinto à vontade com a definição.

O primeiro conto do Páginas sem Glória traz de certa forma um tema recorrente, que é a metalinguagem. O senhor poderia falar um pouco sobre o enredo? Por que, na sua opinião, esse tema é recorrente?
Eu diria que o termo metalinguagem já cansou. Mas me pareceu bastante interessante que nesse conto, Entre as linhas, o conto seja o comentário de uma mulher sobre o livro de um amigo. E a história surge assim, pelo comentário dessa amiga.

Outro tema tratado em Páginas sem Glória é o futebol, que também já havia sido abordado pelo senhor em outros trabalhos. Por que esse tema lhe chama a atenção? Há quem diga que a literatura brasileira não produziu ainda um grande romance ou uma grande história sobre o futebol. O senhor concorda?
Eu gosto muito de futebol e acompanho, desde sempre, os jogos do Fluminense, que por sinal vai bem. Estão sempre dizendo que ainda não foi realizada, na literatura, a grande história do futebol. Talvez não tenham prestado atenção que Páginas sem Glória é a novela do futebol brasileiro. Situei a ação em 1955 porque nesta época, ainda garoto, eu vivia nos campos do Rio de Janeiro e acompanhava o Fluminense "de dentro". Meu tio era diretor do clube, o que me dava este acesso. Tive um outro tio, Carlos (apelido Secura), que foi goleiro amador do Fluminense. Não cheguei a conhecê-lo, porque morreu aos 25 anos, de tuberculose, o que o fez largar o futebol e a medicina, em que havia se formado.

O seu trabalho lançado antes do Páginas sem Glória faz parte da coleção Amores Expressos. O Livro de Praga, contudo, traz sexo, taras, perversões, desejo, arte, etc. Onde está o amor? O senhor se esforçou para oferecer uma visão fora do clichê?
O amor está no próprio erotismo que perpassa o livro inteiro.

À época do lançamento do livro, foi quase um consenso que se trata de sete contos com enredos interligados, o que perfaz um romance. Essa ideia está dentro do que o senhor vê no livro ou não há essa preocupação de classificar?
Sim, são narrativas interligadas, que podem ser lidas como um romance. Prefiro o termo  narrativas, em vez de contos, porque é um termo mais aberto, como o próprio Livro de Praga.

O protagonista do "Livro de Praga" diz estar na cidade tcheca por conta de "um projeto privado que envia escritores brasileiros a várias cidades do mundo", numa clara referência ao projeto Amores Expressos, que de fato lhe levou a Praga. Até que ponto a estória é baseada na sua experiência pessoal naquela cidade?
 A história do Livro de Praga não tem nada a ver com a minha experiência concreta em Praga. Lá na capital tcheca eu apenas flanava por toda a parte, deixando minha imaginação fluir e fazendo anotações.

Há referências a Kafka no texto, até porque o escritor tcheco viveu em Praga. Trata-se de uma referência interessante: uma personagem diz ter tatuado trechos inéditos do escritor no corpo. Foi difícil utilizar uma referência de um autor tão cultuado sem cair no mais do mesmo? O senhor sentiu algum "pudor" por conta do "culto" ao escritor?
Kafka, quer a gente queira ou não, é uma referência obrigatória em Praga. Fui várias vezes ao Novo Museu Kafka, bárbaro, e achei interessante ele surgir em forma de uma narrativa tatuada - e falsa. Um falso Kafka.

A coleção Amores Expressos traz uma série de romances feitos "por encomenda", já que o escritor parte para uma cidade escolhida pelo projeto com esse propósito definido. É mais difícil escrever "sob encomenda"?
É mais difícil escrever sob encomenda, mas a história de amor ... e sexo, que eu escrevi, fugiu bastante da encomenda.

O seu primeiro livro foi lançado em 1969. Depois de 40 anos de ofício, é possível sobreviver de literatura?
 Não, não consigo sobreviver de literatura. Tenho uma aposentadoria. Mas já ganho alguma coisa com a literatura, embora, ao escrever, não pense o que ganharei com aquela história ou aquele livro.

O senhor tem dois livros de poesia lançados, todos há mais de 20 anos. Parou de escrever poesia? O senhor se considera um poeta?
 Eu só escrevi poesia - e bastante experimental - quando senti um apelo muito forte nesse sentido. Não senti mais este apelo e não me considero um poeta, embora tenha sido um, em dois casos excepcionais.

Em tom de deboche, o senhor disse certa vez: "é mais fácil encontrar um escritor com um Jabuti do que sem um Jabuti". Ao mesmo tempo, no seu "currículo" constam, se não me engano, três prêmios Jabuti, além de outras premiações. Para que servem os prêmios?
Na verdade eu já ganhei quatro jabutis, pelos livros, O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, Amazona, Um crime delicado e O vôo da madrugada. Bem, o prêmio serve para o autor ganhar algum dinheiro e divulgar seu trabalho. Prêmio é bom quando a gente ganha (rs)

A literatura argentina ainda lhe agrada? Continua considerando "uma das melhores do mundo"? Que livros indica?
A literatura argentina ainda me agrada muito e a considero mesmo "uma das melhores do mundo". Indico todos os livros  de Borges, os livros de contos de Cortázar, os romances de César Aira (por exemplo: Como me tornei uma monja.), Ricardo Piglia ( Formas breves e A cidade ausente).

Trecho do conto "Entre as linhas"  (do livro Páginas sem Glória)

"Eu estava sentado numa poltrona, ela num sofá, diante de mim. A nos separar, uma mesa baixa, sobre a qual havia uma jarra com mate, um balde com gelo, e dois copos. Em suas mãos, as páginas impressas com a pequena novela que eu concluíra havia cinco dias e lhe enviara por e-mail, pedindo que ela a lesse o mais brevemente possível. Tão logo o fez, convidou-me a ir ao seu apartamento naquela noite de segunda-feira. De todos os meus amigos e amigas era nela que eu mais confiava para emitir um juízo crítico organizado, e nem por isso frio, sobre o meu trabalho. E, de fato, entre as linhas do meu texto, ela fora rabiscando outro texto, que lhe servia de base para o que ia me dizendo, embora, evidentemente, não se impedisse de formular outros pensamentos ali mesmo. Ela me pediu que só a interrompesse quando julgasse absolutamente necessário, pois, definitivamente, não queria entrar em discussões comigo, e sua fala devia fluir com toda a liberdade. Para não perder nada do que ela dissesse, eu levara um gravador, que deixara ao seu lado, no sofá. Por três vezes, ela teve de parar, para que eu trocasse a fita no aparelho. E cada um se levantou para ir ao banheiro uma vez. À parte esses intervalos necessários, não a interrompi em momento algum, pois me fascinava de tal modo o texto que ela ia pronunciando, que essa peça crítica - e, por que não dizer?, também literária e até poética - terminou por tomar, com retoques meus de acabamento, o lugar de minha novela, tornando-se um novo produto que deve ser debitado a nós dois, como se poderá conferir pelo seu resultado. Pois, se a maior parte das palavras do texto final foram ditas por ela, não poderiam existir sem a obra que lhes deu origem, e, muitas vezes, com ela até se confundem.

- Não sei, esse lado seu sombrio, até mortífero - ela disse. - E essa busca sua por demais intencional de beleza, como se isso o redimisse de tanta morbidez e melancolia. Como se você fosse, antes de tudo, um descritor de cenários, sensações e composições - ela disse. - Essas flores que você chama de noturnas pendendo de um vaso na pequena sala do apartamento; a representação de um quadro e de uma gravura, no quarto e na sala; o crucifixo na parede sobre a cama de Pedro; de frente para ele, na outra parede, o quadro com Viviane nua, mas com o seu corpo decomposto em signos do seu sexo - ela disse. - Mas como se você fosse também, repito, um descritor de sensações. O cheiro que Pedro julga sentir da maresia, embora a praia esteja a dois quarteirões de distância do seu edifício; ou mesmo o rumor, ao longe, das ondas quebrando na areia, que ele tem a impressão de escutar - ela disse. - Uma beleza talvez suspeita e aliciante, como a música, dessas que tocam nos carrosséis, que às vezes assoma à mente de Pedro, correspondendo ao que está impresso na gravura da sala, com o garoto sentado sobre o cavalinho que estará girando, girando, subindo e descendo.

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