Jards Macalé e Antônio Cícero se encontram para falar sobre parcerias, poesia e Waly Salomão
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Jards Macalé fala sobre música, poesia e contracultura |
Algumas das mais icônicas letras da Música Popular Brasileira saíram da cabeça de Jards Anet da Silva, conhecido como Jards Macalé, 72 anos. Compositor, cantor, violonista, arranjador e ator, Macalé foi um dos atores mais presentes do movimento de contracultura brasileira da segunda metade do século 20 e até hoje, continua a produzir e influenciar a música brasileira. Compôs, sozinho ou com parceiros como Wally Salomão, o maior deles, e também Jorge Mautner, Torquato Neto, Xico Chaves e Capinam entre outros, algumas das mais importantes músicas já gravadas, como “Vapor Barato”, “Mal Secreto”, “Anjo Exterminado”, “Gothan City”, “Hotel de Estrelas”, “Revendo amigos”, “Movimento dos Barcos”.
Mas Foi com Wally Salomão que teve uma relação de amizade que transcendia as afinidades musicais. Em 2005, para marcar os dez anos sem a presença do amigo, reuniu o melhor do cancioneiro da dupla no álbum ‘Real Grandeza’, um documento vivo da genialidade de ambos. Na época, escreveu:
“Wally Sailormoon, 'Marinheiro da Lua' como se
auto-intitulava, nasceu prá mim por volta de 1966/67 no Rio de Janeiro. Amigo
de Caetano, apareceu lá em casa em Botafogo (R. Teresa Guimarães, casa 9)
pequena vila onde eu morava. Expansivo, falando alto, gestos largos, um furacão
em fina inteligência, de cara me deu a letra de ‘Anjo Exterminado’, nossa
primeira musica. Na medida em q compunhamos as primeiras cancões, a amizade
estreitava-se.
Poeta ímpar, poeta guerreiro, me envolvia em seu entusiasmo,
incentivando-me a mostrar nossa producão através de minha própria voz. Eu,
timido, demorei a solta-la. Waly foi incansável neste propósito. Na gravacão de
meu primeiro disco "Jards Macalé"(1972), foi vital sua presença. Dois
anos depois entramos em estudio para gravar o segundo LP: "Aprender a
Nadar", que concebemos juntos. Nele aprensentava a "linha de Morbeza
Romântica" cantigas ao estilo dorido de Nelson Cavaquinho & Lupicinio
Rodrigues, que culminou na "Rua Real Grandeza" onde, para alegria
dele, inventei a voz que me faltava. A presença de Waly é fundamental na minha aventura musical.
Parceiro vigoroso de versos poderosos, Waly deu sentido ao que buscavamos: a
liberdade poética, a experimentacao radical.”
Pela primeira vez no Flipipa, Jards Macalé falará sobre essa parceria na mesa "Das Falanges de Máscaras a Real Grandeza", tendo como parceiro de debate o escritor, ensaísta e compositor Antônio Cícero. O encontro abrirá oficialmente o Festival Literário, dia 6 de agosto, às 19h30.
O encontro com Cícero não é por acaso. Assim como Macalé, Cícero teve uma grande aliança intelectual com Wally Salomão. Em 1994, organizou, em parceria com o poeta, o livro 'O relativismo enquanto visão do mundo', que reunia as conferências realizadas pelo projeto Banco Nacional de Ideias, além de ter estudos dedicado à poesia de Salomão.
O poeta e ensáista Antônio Cícero está de volta ao Flipipa |
Carioca do bairro da Tijuca, nascido em 3 de março de 1943 ao pé do Morro da Formiga, Jards cresceu rodeado por música, desde o batuque do morro vizinho, Vicente Celestino e Gilda de Abreu, até as valsas, foxes e modinhas tocadas ao piano pela mãe, Dona Lígia. Aos 8 anos mudou-se para Ipanema onde ganhou o apelido de Macalé, nome do pior jogador do Botafogo na época. Em meados da década de 1950 começou a aprender a tocar violão acompanhando a vizinha Marilena, colocou sua bola murcha de lado, mas adotou o Macalé como sobrenome.
Estudou piano e orquestração com Guerra Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, violão com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno, análise musical com Esther Scliar. Amigo dos músicos baianos, em 1966 dirigiu um show de Maria Bethânia. Acompanhou de perto o Tropicalismo e, em 1969, entrou no IV Festival Internacional da Canção, numa teatral apresentação do rock "Gotham City".
Em 1970, Macalé foi a Londres em encontro dos baianos exilados. Com músicas gravadas por Gal Costa ("Hotel das Estrelas", "Vapor Barato"), Maria Bethânia ("Anjo Exterminado" e "Movimento dos Barcos") e Clara Nunes ("O Mais-Que-Perfeito"), resolveu fazer, na volta para o Brasil, seu primeiro LP solo, "Jards Macalé" (1972). No ano seguinte, gravou ao vivo, com vários artistas, o "Banquete dos Mendigos", disco duplo para comemorar o 25º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Censurado, o álbum só saiu anos mais tarde. Em 1974, Macalé lançou o LP "Aprender a Nadar", apresentando a linha de morbeza (morbidez + beleza) romântica do parceiro Waly Salomão.
Num dos vários lances de irreverência de sua carreira, alugou uma das barcas da Cantareira para fazer o lançamento do disco e terminou o show jogando-se no mar. Em 1987, lançou o LP "Quatro Batutas e um Curinga" e curtiu um hiato fonográfico de 11 anos, rompido por "O Q Faço É Música". Nesse meio tempo, seu trabalho veio sendo reconhecido tanto pelos jovens músicos ("Gotham City" foi regravada pelo Camisa de Vênus e "Vapor Barato" pelo Rappa) quanto pelos veteranos (Moreira da Silva, rei do samba de breque, passou-lhe o chapéu).
O ano de 2015 recupera um importante momento da carreira compositor, com o lançamento pelo selo Discobertas, do box triplo “Banquete dos Mendigos”. O álbum foi gravado ao vivo no dia 10 de dezembro de 1973 no Museu de Arte Moderna do Rio Janeiro, em show de comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em plena ditadura militar, Macalé dirigiu e Xico Chaves arregimentou grandes nomes da música como Chico Buarque. Gonzaguinha, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Jorge Mautner, Johnny Alf, Luis Melodia, Raul Seixas, Milton Nascimento, Dominguinhos, Gal Costa, Soma, Pedro Santos. O registro foi feito clandestinamente pelo engenheiro de som Maurice Hughes, mas o disco foi impedido pela censura em 1974 de chegar às lojas, sendo liberado para comercialização somente em 1979. A caixa lançada este ano foi produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes a partir dos tapes originais do show, guardados por Macalé há 42 anos.
ANTÔNIO CÍCERO
Poeta, compositor, ensaísta e filósofo, Antônio Cícero nasceu em 1945, no Rio de Janeiro. Suas atividades se dividem entre o domínio da poesia e da filosofia. Na poesia, ganhou visibilidade ao ter poemas seus musicados pela irmã Marina Lima, iniciando uma rica parceria que renderia sucessos como “Fullgás” e “Pra começar”.
A música marcou também outros encontros com Lulu Santos, João Bosco, Wally Salomão e Caetano Veloso (‘Grafitti’). Na poesia escrita lançou Guardar (Record, 1996), A cidade e os livros (Record, 2002) e, em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo, O livro de sombras: pintura, cinema e poesia (+ 2 Editora, 2010). Em colaboração com Eucanaã Ferraz, editou a Nova antologia poética de Vinícius de Moraes (Cia das Letras, 2003) e com o poeta Waly Salomão, editou o livro O relativismo enquanto visão do mundo (Francisco Alves, 1994). Como pensador, publicou O mundo desde o fim (Francisco Alves, 1995) e Finalidades sem fim (Cia das Letras, 2005). Sobre Drummond, tema desta mesa, Cícero escreveu: “Evitando os fetiches da tradição e da vanguarda, Drummond criou uma obra inovadora que dialoga com formas clássicas.”
Fontes: Wikipedia, Site oficial de Jards Macalé, Notas Musicais
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