Autor da biografia de Mário de Andrade tece relações entre o heroi Macunaíma e o coquista potiguar Chico Antônio

...Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta/ Mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas,/Só o esquecimento é que condensa,/E então minha alma servirá de abrigo.”


O filósofo e escritor Eduardo Jardim é autor da primeira biografia sobre Mário de Andrade
Os versos acima integram o célebre poema "Trezentos", de Mário de Andrade, e definem a onipresença deste poeta, romancista, crítico musical, gestor público, folclorista e agitador cultural na cultura brasileira. Verdadeiro heroi intelectual do Brasil, o autor de ‘Macunaíma’ e ‘Amar, verbo intransitivo’ deixou obras seminais que ajudaram a moldar a cultura brasileira e continuam a iluminar o Brasil neste século 21.

Nasceu em São Paulo em 1893, morrendo na mesma cidade 51 anos depois. E nos 70 anos de sua morte, surgem diversas abordagens e homenagens que atualizam seu legado para as novas gerações, lançando luz também sobre os recantos de sua vasta obra ainda pouco explorados.

Entre as centenas de veredas de sua produção intelectual está o livro “O Turista Aprendiz” (1928), obra que o conecta intimamente com o Rio Grande do Norte. Mário de Andrade era amigo do etnógrafo e intelectual Luís da Câmara Cascudo, com o qual mantinha correspondência regular, e também próximo do crítico Antônio Bento.

A convite de Cascudo, Mário visitou duas vezes o RN e, em uma delas, permaneceu 40 dias entre andanças por engenhos e  sertões do Seridó e do Oeste coletando documentos musicais e populares. Foi nessa viagem que conheceu o coquista Chico Antônio. A vida e a liberdade criadora do cantador encantam e inspiram o intelectual paulistano.

As coincidências que envolvem o mítico herói sem caráter Macunaíma e o coquista potiguar será um dos temas abordados no FLIPIPA 2015. Para isso, foi convocado o escritor e filósofo Eduardo Jardim, estudioso de Mário de Andrade e autor da biografia “Eu sou Trezentos —Mário de Andrade, vida e obra” (Edições de Janeiro, 256 páginas).  Jardim foi quem abriu a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty desde ano, falando sobre vida e obra de Mário de Andrade.

Carioca, foi professor de filosofia na PUC-Rio por muitos anos. Bolsista pesquisador da Fundação Biblioteca Nacional, é autor de Eu sou trezentos (Edições de Janeiro, 2015), a primeira biografia de Mário de Andrade. Publicou também os estudos A brasilidade modernista: sua dimensão filosófica (Graal, 1978), Limites do moderno: o pensamento estético de Mário de Andrade (Relume Dumará, 1999), Mário de Andrade: a morte do poeta (Civilização Brasileira/Record, 2005), A duas vozes: Hannah Arendt e Octavio Paz (Civilização Brasileira/Record, 2007) e Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início (Civilização Brasileira/Record, 2011).

A mesa “Macunaíma encontra Chico Antônio” contará com o interlocutor Vicente Serejo, um profundo conhecedor da obra  de Mário de Andrade. A palestra encerra a primeira noite do Flipipa, dia 6 de agosto.

Eu Sou Trezentos também será lançado durante o Flipipa
SOBRE O LIVRO
Em “Eu sou trezentos”, o autor articula a trajetória pessoal de Mário com seu projeto de reforma da cultura e do país, mostrando como as duas vertentes caminharam todo tempo intrinsecamente associadas. O livro é fruto de anos de pesquisa do autor sobre o contexto do Modernismo brasileiro e seu grande artífice, e conta ainda com cerca de 50 imagens de Mário ao longo de sua agitada e profícua trajetória.

O livro parte da infância entre a capital e o interior paulista de menino triste e feioso, a formação conservadora, os estudos de música, a explosão do Modernismo – quando conjugou uma nova ideia de Brasil ao lado de um grupo de artistas, como Oswald de Andrade e Anita Malfatti -, o livro traça um perfil deste que foi, mais que um grande animador cultural, um intérprete singular do país, sua arte e sua gente.

Mário de Andrade teve também forte atuação política — experiência de belas realizações e grandes frustrações. Ganha destaque, nesse percurso, uma série de tensões que marcaram o pensamento e a própria vida do poeta: o impulso lírico e a inteligência analítica, o nacional e o universal, o letrado e o popular, a “vida de cima”, consciente e elevada e a “vida de baixo”, com tendências instintivas.
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