Boi Tungão, Waly Salomão e histórias de família com Paulo Betti



Conversa de velhos amigos. Foto Dionisio Outeda

Antônio Cícero

Macalé canta Rua Real Grandeza. Foto Dionisio Outeda

Antônio Cícero e Jards Macalé relembram Waly Salomão. Foto Dionisio Outeda



Como dois amigos em uma mesa de bar, os cariocas Antônio Cícero e Jards Macalé abriram o Flipipa 2015, costurando histórias sobre Waly Salomão (1943-2003) a partir da convivência e da amizade que nutriram com o grande poeta e compositor. A conversa revelou fatos curiosos do cotidiano, como a vez em que Waly e Cícero viajaram até a Espanha para convidar o poeta espanhol Joan Brossa, amigo de João Cabral de Melo Neto, e assim conseguir convencer Cabral a participar do evento literário Banco Nacional de Ideias, nos anos 1990. “Foi uma aventura minha e de Waly. Batemos à porta da casa de Brossa e depois de muito custo conseguimos esse trunfo para trazer João Cabral para o evento”, lembra com humor, Antônio Cicero.“Esse encontro ficou conhecido como a Conferência dos três Joãos: João Cabral de Melo Neto, Joan Brossa e John Ashbery”.

Macalé ainda pontuou seu depoimento cantando as geniais de Vapor Barato e Rua Real Grandeza, se divertiu com memórias como quando tentaram compor uma letra para a música que João Bosco tinha enviado numa fita K7: “Depois de Waly praguejar contra o toca-fitas, seu filho veio nos mostrar que estava fora da tomada”.

Mas o bonito cenário criado pelo artista plástico Flávio Freitas na Tenda dos Autores, deu pistas de que Mário de Andrade e sua relação com o Nordeste, sobretudo com a cultura popular e particularmente com o coquista Chico Antônio, foi o ponto alto da noite de quinta (6). 
Vicente Serejo e Eduardo Jardim abordam a ligação de Cascudo e Mário

Serejo faz um resumo cronológico do aprofundamento etnológico de Cascudo.

Filósofo e escritor Eduardo Jardim

Jardim é autor da biografia Eu Sou Trezentos



A mesa com Vicente Serejo e Eduardo Jardim (“Macunaíma e Chico Antônio na biografia de Mário de Andrade”) foi consistente. Conhecedor da obra de Câmara Cascudo, Serejo introduziu o espectador aos primórdios da relação Cascudo e a cultura popular, assim como o contato com o modernista Mário de Andrade. Direcionou ao momento em que “Cascudinho” aprofundou-se nos estudos etnográficos, comentando de forma cronológica as correspondências onde o folclorista e “Mano Mário” trocavam confidências sobre o que andavam escrevendo. Já o filósofo Eduardo Jardim se ateve a dois assuntos pinçados da biografia “Eu Sou Trezentos”: a personalidade de Mário de Andrade e as dualidades de sua vida, e a viagem etnológica pelo Rio Grande do Norte. Adentrou no universo de Mário com Chico Antônio e seu encantamento com a figura do coquista. 

O encerramento foi marcado pela leitura do trecho da  crônica “Vida do cantador”, originalmente publicada por Mário de Andrade no jornal Folha da Manhã tendo como personagem Chico Antônio. A crônica narra o desejo do cantador de sair pelo mundo. A ida para São Paulo em busca do padrasto, que era imigrante e trabalhava numa fazenda de café.  Ao chegar lá, descobre que seu coco não tinha serventia, então parou de cantar. Até que um dia, Chico Antônio salvou os bois de uma fazenda ao cantar seu aboio, mas acabou morrendo com a chifrada de um touro brabo. 
Público concorrido na primeira noite do Flipipa

Momento mágico foi a intervenção de Dimas Carlos

Dimas Carlos e Ballet da Cidade apresentam "Encantaria"

"Encantaria" foi pontuado pelos cocos de Chico Antônio


Ao final, o lugar foi ‘invadido’ pela intervenção “Encantaria”, coreografia de Anízia Marques para uma versão orquestrada do coco por Danilo Guanais com os bailarinos Dimas Carlos, Fábio Moura, Vanessa Oliveira e Gameiro, do Balé da Cidade do Natal. Na voz de Antônio Nóbrega, Boi Tungão e outros cocos do potiguar fez o público dançar e arrancou sorrisos sinceros. Dimas encerrou com um depoimento emocionante sobre a cultura brasileira e sua diversidade única, e o quanto “é importante reverenciar pessoas que dedicaram a vida inteira a falar sobre nós”. 

Cassiano Arruda participa do último debate 

Paulo Betti pela primeira vez no RN

Histórias de infância, dramaturgia e literatura

Cassiano Arruda e Paulo Betti


A noite terminou em grande estilo, com Paulo Betti e Cassiano Arruda em uma conversa variada, fugindo do título "Dramaturgia e literatura: de Antônio Conselheiro a Lamarca". Em 1994, Betti viveu nas telonas o capitão Lamarca, Carlos Lamarca, ex-militar e guerrilheiro, um dos principais líderes da oposição armada à ditadura Militar no início dos anos 1970. “Não conhecia a fundo o personagem, mas mergulhei no projeto. Queriam o Andy Garcia, mas não tinham bala pra contratar o cara e me chamaram”.

Betti falou sobre outros personagens, como o  vilão cômico Téo Pereira, o blogueiro da novela Império (TV Globo): “Eu ia fazer um marido envolvido com duas esposas, sei lá, pensei que preferia, ia pegar a Nanda Costa e tal. O Téo era do José Wilker, ele morreu antes. Sempre me dei bem nas novelas do Aguinaldo Silva, o diretor virou pra mim e falou que o personagem era bem mais interessante”. (Texto: Cinthia Lopes/com informações da Tribuna do Norte) Todas as fotos: Dionisio Outeda/FatoNovo.